Dionísia Gonçalves Pinto nasceu em 1810 em Papari, RN (que hoje tem o nome de Nísia Floresta em sua homenagem). Filha de português e brasileira, viveu em Recife, onde publicou seus primeiros artigos no jornal “Espelho das brasileiras”, e em Porto Alegre, onde se tornou amiga de Anita e Giuseppe Garibaldi. Com a eclosão da Revolução Farroupilha, Dionísia, viúva do segundo casamento, se mudou para o Rio de Janeiro, onde fundou o Colégio Augusto, na Rua do Paço Imperial. O nome da escola homenageava o falecido marido, Manuel Augusto de Faria Rocha, e também seria incorporado ao pseudônimo usado pela autora: Nísia Floresta Brasileira Augusta.
Fundado em 1838, o Colégio Augusto era dedicado à educação de meninas, oferecendo disciplinas até então reservadas apenas aos estudantes do sexo masculino, tais como as Ciências, o Latim, a História e a Educação Física. Nísia foi, por isso, duramente criticada, inclusive por meio de jornais de ampla circulação na Corte:
“Trabalhos de língua não faltaram, os de agulha ficaram no escuro. Os maridos precisam de mulher que trabalhe mais e fale menos”. (“O Mercantil”, 2 de janeiro de 1847)
Não obstante a campanha difamatória e as várias polêmicas em que se viu envolvida, Nísia Floresta não abandonou sua luta pela educação feminina, quer no colégio, que funcionou durante 17 anos, quer em seus escritos e discursos. Foi autora de vários artigos, ensaios, poemas, novelas e relatos de viagem. Seus trabalhos mais conhecidos são “Direitos das mulheres e injustiças dos homens” (1832) — tradução livre de “Vindications of the rights of woman”, da inglesa Mary Wollstonecraft, na qual Nísia Floresta reflete sobre a ideologia exposta pela feminista inglesa, adaptando-a à realidade da sociedade patriarcal brasileira –; “Conselhos à minha filha” (1842), escrito como presente de aniversário para sua filha Lívia Augusta; e “Opúsculo humanitário”, coletânea de 62 artigos sobre a educação e a condição feminina desde a Antiguidade, publicada em 1853.
A partir de 1849, Nísia Floresta viveu na Europa, principalmente em Paris, com breves períodos de retorno ao Brasil. No exterior, onde encontrou mais receptividade para suas ideias, continuou a escrever e a se manifestar a favor da emancipação feminina, além de outras causas como a abolição da escravatura e o direito dos índios à sua identidade. Manteve intensa correspondência com o fundador do Positivismo, Auguste Comte, que fez apreciações elogiosas a seu trabalho. Faleceu de pneumonia em Rouen, na França, em 1885, quando, segundo sua biógrafa Constância Duarte (“Nísia Floresta, vida e obra”, 1995), os norte-rio-grandenses ainda se diziam envergonhados de ser conterrâneos de uma mulher tida como indecorosa e transgressora.
A Divisão de Obras Gerais da Biblioteca Nacional possui um exemplar de “Opúsculo Humanitário”, que pode ser consultado no link da BN Digital:
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março 17, 2017 às 22:45 |
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