Por ocasião do aniversário de nascimento de Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 – 29 de setembro de 1908), a Série Documentos Literários, contribuição da Divisão de Manuscritos, apresenta o contrato de publicação da obra “Helena do Vale”, firmado com a Livraria Garnier.

Machado de Assis aos 25 anos – Acervo Iconográfico FBN
A empresa se estabeleceu em 1844, no Rio de Janeiro, como uma filial da livraria francesa Garnier Frères, pertencente a Auguste e Hippolyte Garnier. À sua frente estava o irmão mais novo de ambos, Baptiste-Louis Garnier (1823 – 1893). O estabelecimento, que viria a se tornar uma das mais importantes livrarias e editoras do Brasil no século XIX, mantinha uma equipe qualificada de redatores, revisores e tradutores e investia na edição de obras literárias. Assim obteve os direitos de publicação dos mais célebres escritores da época, apresentando ao leitor brasileiro as obras de Honoré de Balzac, Alexandre Dumas e Charles Dickens.
Entre os brasileiros se encontram nomes como os de José de Alencar, Olavo Bilac e João do Rio, sem esquecer Machado de Assis, que, além de publicar seus primeiros livros pela Garnier, trabalhou para a editora como revisor. Era também assíduo frequentador dos encontros literários que tinham lugar na livraria.
Este contrato se refere à primeira edição do livro “Helena do Vale”, hoje conhecido apenas como “Helena”. Tido como a obra mais romântica de Machado de Assis, o livro foi publicado inicialmente como folhetim no jornal “O Globo”, que circulou entre 1874 e 1883 – um período de grande agitação política, centrada principalmente nos debates abolicionistas. Apesar do seu teor combativo e de abrigar animadas polêmicas, como a que foi travada entre Joaquim Nabuco e José de Alencar a respeito de uma peça de autoria do último, “O Globo” também cedeu espaço ao romance folhetinesco, e “Helena” fez tanto sucesso que sua primeira edição em livro saiu no mesmo ano, 1876. A tiragem foi de 1.500 exemplares, impressos na tipografia do jornal, e o autor recebeu seiscentos mil-réis pelos direitos de impressão, comprometendo-se a não fazer outra edição da obra antes que a primeira se esgotasse, a não ser que comprasse os exemplares excedentes pelo preço cheio.
A partir dos primeiros anos da República, a Livraria Garnier entrou em declínio, tendo passado pelas mãos de vários donos e gerentes antes de fechar as portas definitivamente em 1934. Já “Helena” tem várias edições até hoje, foi adaptado para a televisão em três diferentes momentos e, em 2014, transformado em mangá pela NewPop editora.
O contrato se encontra na Divisão de Manuscritos, como parte de um conjunto adquirido por compra da Livraria Kosmos. Pode ser acessado pela BN Digital.
A amizade entre Machado de Assis e Joaquim Nabuco foi registrada em 1906 pelo fotógrafo Augusto Malta. Machado é o da esquerda, com os bigodes voltados para baixo. O documento está sob a guarda da Divisão de Iconografia e disponível na BN Digital clicando aqui.
Deixe um comentário