Documentos Literários: Homenagem ao Pai da Aviação

julho 20, 2018

A Série Documentos Literários, colaboração da Divisão de Manuscritos, homenageia Santos Dumont no seu aniversário.

Alberto Santos Dumont (Palmira, atual Santos Dumont – MG, 20 de julho de 1873 – Guarujá, SP, 23 de julho de 1932) foi aeronauta e inventor. Apaixonado por tudo que fosse mecânico, desde pequeno fez experiências com balões, locomotivas e outros engenhos. A leitura das obras de Júlio Verne em muito contribuiu para seu desejo de criar uma máquina capaz de se deslocar pelo ar, e com Camille Flammarion ele estudou a história da navegação aérea, acabando por se decidir pela França como base para seus estudos, práticas e invenções.

 

Em 1900, Santos-Dumont já havia criado vários balões e dirigíveis e feito dezenas de voos experimentais, nem sempre bem sucedidos. Mas mesmo seus fracassos o levavam a ir mais além. Em 1901, com o balão conhecido como N.6, ele venceu o Prêmio Deutsch, que lhe valeu reconhecimento e fama em âmbito internacional.

O 14-Bis, construído após uma série de tentativas e erros, foi – segundo os pesquisadores do Instituto Histórico da Aeronáutica – o primeiro avião mais pesado que o ar a conseguir decolar por seus próprios meios. Com ele, Santos Dumont voou a três metros do solo, percorrendo mais de 60 m em apenas seis segundos, no dia 23 de outubro de 1906. No dia 12 de novembro, tendo introduzido melhorias e consertado avarias na máquina, voou 220 metros, na mesma localidade parisiense de Bagatelle, e venceu o Prêmio do Aeroclube da França.

Com a saúde em rápido declínio, o inventor, ainda assim, se dedicou a algumas experiências. Residindo na França, fez observações astronômicas — o uso de telescópio lhe valeu uma acusação de espionagem por parte dos vizinhos –, inventou um motor portátil para esquiadores e projetou uma casa em Petrópolis, hoje Museu Casa de Santos Dumont. Sua convicção inicial de que os aviões poderiam servir a fins militares foi rapidamente abalada ao vê-los, efetivamente, transformados em arma de guerra. Segundo alguns pesquisadores, seu suicídio se deveu, ou pelo menos foi apressado pela angústia de ver que seu invento seria utilizado na Revolução de 1932.

Em 1956, o Brasil comemorou o cinquentenário do primeiro voo com um “Ano Santos Dumont”. A Biblioteca Nacional fez uma exposição reunindo seu acervo documental e iconográfico, acrescido de obras emprestadas por colecionadores, da qual publicou um catálogo. O exemplar pertencente à Divisão de Iconografia foi digitalizado e se encontra disponível na BN Digital através do link

Clique para acessar o icon1282516.pdf

Documentos Literários | O Livro Mais Lido no Nordeste

julho 13, 2018

Em homenagem ao nascimento de John Dee (Londres, 13 de julho de 1527 – Richmond, 1608?), matemático, geógrafo, alquimista e astrólogo que serviu de conselheiro à Rainha Elizabeth I da Inglaterra, a Série Documentos Literários apresenta o Lunário Perpétuo, nome encurtado de uma obra muito popular no Brasil nos séculos XVIII e XIX.

Escrito originalmente em espanhol pelo astrólogo e matemático Jeronimo Cortez, natural de Valencia, o Lunário teve sua primeira edição em 1582, época em que a Astrologia era um campo do saber reconhecido pelos eruditos e amplamente difundido entre a população. Foram muitos os almanaques astrológicos que circularam na Península Ibérica nesse período, contendo informações sobre signos astrológicos e fenômenos astronômicos, mas, principalmente, calendários de festas e dias santos, meteorológicos, de tábuas da maré, lunares – enfim, informações utilíssimas para o dia-a-dia e para atividades como a navegação e a agricultura.

o livro mais lido do ne

 

A primeira edição portuguesa surgiu em 1703, com tradução de António da Silva e Brito e o título “O Non plus ultra do lunario e pronostico perpetuo, geral, e particular para todos os Reynos e províncias”. Trazido para o Brasil, o “Lunário Perpétuo” fez sucesso entre os leitores, principalmente no Nordeste, onde um bom prognóstico relativo às chuvas era essencial para a manutenção da atividade agrária e pastoril. Segundo Câmara Cascudo, foi o livro mais lido no Nordeste durante 200 anos, e ainda serviu de base para outros almanaques, tais como o “Juízo do Ano” e o “Almanaque do Horticultor” utilizados pelos “profetas das chuvas”, como eram conhecidos os andarilhos que percorriam o sertão anunciando a previsão do tempo.

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A Divisão de Obras Gerais da Biblioteca Nacional possui um exemplar do “Lunário Perpétuo”, pertencente a uma edição de 1805. A obra foi restaurada e digitalizada, e pode ser consultada na BN Digital através do link:

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasgerais/drg1379068/drg1379068.pdf

Caso não consiga visualizar a obra completa online faça o download no mesmo endereço.

Documentos Literários | O “Sucessor de Eça” elogia o Príncipe dos Prosadores

julho 6, 2018

A Série Documentos Literários, colaboração da Divisão de Manuscritos, apresenta a apreciação do escritor português Carlos Malheiro Dias acerca de “Baladilhas”, livro de contos do brasileiro Coelho Neto.

Autor de mais de 120 volumes e alcunhado “Príncipe dos Prosadores”, Henrique Maximiano Coelho Neto (Caxias, MA, 1864 – Rio de Janeiro, 1934) teve seus escritos difundidos em Portugal através da Editora Lello & Irmão, que também publicou, entre outros brasileiros, João do Rio, Euclides da Cunha e Sérgio Romero. A elaborada construção de sua prosa, aliada a descrições e ao uso de termos considerados exóticos, agradou bastante aos críticos portugueses.

Um de seus admiradores, e interlocutor frequente, foi o historiador, diplomata e ficcionista Carlos Malheiro Dias (Porto, 1875 – Lisboa, 1941). Aclamado pela crítica como “sucessor de Eça de Queirós”, era monarquista convicto (ao contrário do republicano Coelho Neto) e se tornou mais conservador à medida que envelhecia. Residiu no Brasil, escreveu para jornais brasileiros, como o “Correio Paulistano”, e ocupou cargos importantes nas associações das colônias portuguesas, tendo expressado, ao longo de toda a vida, o desejo de que o Brasil e Portugal permanecessem unidos.

baladilhas

A Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional abriga várias cartas de Carlos Malheiro Dias, a maior parte delas pertencente à Coleção Coelho Neto. O documento que apresentamos integra a Coleção Literatura. Nele, o escritor português (que se assina apenas como Carlos Dias) não poupa elogios a “Baladilhas”, livro publicado pela primeira vez no Brasil em 1894, no qual, segundo afirma, a Forma encerra a Ideia “como uma garra de ouro segurando um brilhante, como uma custódia argêntea, refulgindo de lascas preciosas e encerrando a hóstia, como um tabernáculo entalhado em cedro e guardando um sacrário”.

O documento está digitalizado e pode ser consultado através do link:

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss_I_07_17_033/mss_I_07_17_033.pdf

FBN | Documentos Literários: Carta de Lima Barreto a um Positivista Francês

junho 29, 2018

A Série Documentos Literários, colaboração da Divisão de Manuscritos, apresenta a tradução do rascunho de uma carta enviada por Lima Barreto ao sociólogo e filósofo francês Célestin Bouglé, um republicano e positivista militante próximo de Émile Durkheim. A data provável de envio da carta (não há data, já que é um rascunho) é 1905 ou 1906. O mote para o envio da carta é o livro “La démocratie devant la science. Études critiques sur l’hérédité, la concurrence et la différenciation”, publicado em Paris em 1904.

 

lima barreto

 

Lima, após a leitura do livro, sentiu-se impelido a entrar em contato com o autor e ressaltar as contribuições dos mulatos (termo utilizado por Lima Barreto) para a vida cultural e científica do Brasil. Segundo ele, tratava-se de “dissipar certas opiniões falsas que o mundo civilizado tem sobre as pessoas de cor”. Lima apresenta-se ao francês, repassa sua origem e suas atividades então correntes, e esboça uma linhagem de intelectuais “mulatos” que começa no período colonial e vai até o início do séc. XX.

 

 

Segue a tradução feita por Hudson Rabelo, da Divisão de Manuscritos:

Escrevo-lhe, Sr., cheio de audácia, após terminar a leitura de seu livro – “A Democracia diante da ciência”. Peço que perdoes meus erros de francês. Envio esta carta para ofececer-lhe apontamentos sobre a atividade dos mulatos em meu país. Antes de mais nada, preciso dizer que sou mulato, jovem também, 25 anos, e que fiz meus estudos na Escola Politécnica do Rio, tendo deixado de continuar o curso (engenharia) para me entregar à literatura e ao estudo das questões sociais. Atualmente, sou redator em duas pequenas revistas do Rio, onde nasci, e trabalho no Ministério da Guerra.

Ao ler seu livro, observei que o Sr. é um amante dos [ilegível], e que pode servir-lhe a respeito dos mulatos do Brasil. Nas já notáveis letras brasileiras, os mulatos estiveram sempre bem representados. O maior de nossos poetas vicinais, Gonçalves Dias, era mulato; o mais estudado de nossos músicos, um Palestrina, José Maurício [Nunes Garcia], era mulato; os grandes nomes atuais da literatura, Olavo Bilac, Machado de Assis e Coelho Neto, são mulatos. A corrente mulata dura já um século e meio, desde Caldas Barbosa (1740-1800) e Silva Alvarenga (1749-1814) até Bilac, Neto e M. de Assis. Tivemos grandes jornalistas mulatos: José do Patrocínio (também farmacêutico), Ferreira de Menezes e Ferreira de Araújo, sábios, escritores, médicos, eruditos, etc.

Se quiser apontamentos mais elaborados, posso enviá-los em uma outra carta. Peço-lhe perdão por escrever tão mal na sua bela língua, mas me vi forçado a dissipar certas opiniões falsas que o mundo civilizado tem sobre as pessoas de cor.

Faço votos, sr. Bouglé, de que o sr. saiba ver nesta carta um desejo muito puro de verdade e de justiça, saído de uma pequena alma vibrante.

A carta, com muitas rasuras e que não está assinada, integra o Arquivo Lima Barreto, que está sob a guarda da Divisão de Manuscritos e recebeu o Registro Memória do Mundo da UNESCO em 2017. Encontra-se em exposição na mostra “130 anos de Abolição : Luta, Resistência e Consciência”, que ficará até agosto na sala da Divisão de Manuscritos, no 3º. Andar do prédio sede da Fundação Biblioteca Nacional.

 

FBN | Documentos Literários: Aniversário de Machado de Assis

junho 21, 2018

Por ocasião do aniversário de nascimento de Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 – 29 de setembro de 1908), a Série Documentos Literários, contribuição da Divisão de Manuscritos, apresenta o contrato de publicação da obra “Helena do Vale”, firmado com a Livraria Garnier.

 

machado de assi aos 25

Machado de Assis aos 25 anos – Acervo Iconográfico FBN

 

A empresa se estabeleceu em 1844, no Rio de Janeiro, como uma filial da livraria francesa Garnier Frères, pertencente a Auguste e Hippolyte Garnier. À sua frente estava o irmão mais novo de ambos, Baptiste-Louis Garnier (1823 – 1893). O estabelecimento, que viria a se tornar uma das mais importantes livrarias e editoras do Brasil no século XIX, mantinha uma equipe qualificada de redatores, revisores e tradutores e investia na edição de obras literárias. Assim obteve os direitos de publicação dos mais célebres escritores da época, apresentando ao leitor brasileiro as obras de Honoré de Balzac, Alexandre Dumas e Charles Dickens.

Entre os brasileiros se encontram nomes como os de José de Alencar, Olavo Bilac e João do Rio, sem esquecer Machado de Assis, que, além de publicar seus primeiros livros pela Garnier, trabalhou para a editora como revisor. Era também assíduo frequentador dos encontros literários que tinham lugar na livraria.

Este contrato se refere à primeira edição do livro “Helena do Vale”, hoje conhecido apenas como “Helena”. Tido como a obra mais romântica de Machado de Assis, o livro foi publicado inicialmente como folhetim no jornal “O Globo”, que circulou entre 1874 e 1883 – um período de grande agitação política, centrada principalmente nos debates abolicionistas. Apesar do seu teor combativo e de abrigar animadas polêmicas, como a que foi travada entre Joaquim Nabuco e José de Alencar a respeito de uma peça de autoria do último, “O Globo” também cedeu espaço ao romance folhetinesco, e “Helena” fez tanto sucesso que sua primeira edição em livro saiu no mesmo ano, 1876. A tiragem foi de 1.500 exemplares, impressos na tipografia do jornal, e o autor recebeu seiscentos mil-réis pelos direitos de impressão, comprometendo-se a não fazer outra edição da obra antes que a primeira se esgotasse, a não ser que comprasse os exemplares excedentes pelo preço cheio.

A partir dos primeiros anos da República, a Livraria Garnier entrou em declínio, tendo passado pelas mãos de vários donos e gerentes antes de fechar as portas definitivamente em 1934. Já “Helena” tem várias edições até hoje, foi adaptado para a televisão em três diferentes momentos e, em 2014, transformado em mangá pela NewPop editora.

O contrato se encontra na Divisão de Manuscritos, como parte de um conjunto adquirido por compra da Livraria Kosmos. Pode ser acessado pela BN Digital.

 

 

A amizade entre Machado de Assis e Joaquim Nabuco foi registrada em 1906 pelo fotógrafo Augusto Malta. Machado é o da esquerda, com os bigodes voltados para baixo. O documento está sob a guarda da Divisão de Iconografia e disponível na BN Digital clicando aqui.

 

FBN | 14 de junho de 2018 – Começa a Copa do Mundo

junho 14, 2018

Em 13 de julho de 1930, há aproximadamente 88 anos, a 1ª edição da Copa do Mundo tinha seu início. No Brasil, os jornais estampavam manchetes sobre o evento e através deles é possível viajar na história e ver como o primeiro Mundial de futebol foi noticiado.

O periódico “A Noite”, em 9 de julho de 1930, chama atenção para o envolvimento que a competição estava gerando em seu título: “Para o campeonato mundial – É enorme o interesse que vem despertando a realização do melhor certame”.

No mesmo jornal, em 11 de julho, foram destacados: “Trabalho intenso, impressões optimas, e espectativas de duvida, receio mutuo e empenho maximo”

 

 

A publicação seriada “O Diário Carioca”, em 6 de julho, faz a cobertura da chegada da seleção ao Uruguai trazendo o perfil de alguns jogadores. No dia 12 de julho, aborda a data do 1º jogo do Brasil e noticia a transmissão das partidas pelo rádio.

 

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Finalmente, o “Diário de Notícias” faz uma série de reportagens. No dia 7, traz uma entrevista com o chefe da embaixada brasileira falando sobre os motivos da participação do país no mundial. Dia 12 de julho, a notícia do início da Copa do Mundo rende a capa da seção de esportes, com o seguinte título: “Será inaugurada amanhã, com os jogos México x França e Estados Unidos x Belgica, a importante competição internacional de Montevidéo, em disputa do riquissimo trophéo denominado “Taça Mundial””. No dia seguinte, o jornal faz uma matéria falando das expectativas para o 1º jogo do Brasil. Dia 14, o dia do jogo, o jornal dedica uma página inteira à partida que aconteceria no dia e aos jogos que já ocorreram no dia anterior.

 

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Para acessar os periódicos e navegar por eles clique nos links abaixo:

A noite:

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O Diário Carioca:

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Diário de Notícias:

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FBN | Documentos Literários: Casamento – Poema de Adélia Prado

junho 8, 2018

Faltando pouco para o Dia dos Namorados, a Série Documentos Literários, contribuição da Divisão de Manuscritos, apresenta o poema “Casamento” de Adélia Prado.

Nascida em Divinópolis – MG a 13 de dezembro de 1935, a autora se formou em Filosofia e exerceu o magistério durante muitos anos antes de iniciar sua carreira literária com o incentivo dos poetas (também mineiros) Affonso Romano de Sant´Anna e Carlos Drummond de Andrade. Seu primeiro livro de poemas, “Bagagem”, foi lançado em 1976, e já em 1978 recebia o Prêmio Jabuti por “O Coração Disparado”. Muitos outros se seguiriam, de prosa e de poesia, sendo os mais famosos “Os Componentes da Banda” (1984) e “Manuscritos de Felipa” (1999).

Alguns textos de Adélia Prado foram adaptados para o teatro e o balé; a peça “Dona Doida”, sucesso estrelado por Fernanda Montenegro em 1987 e desde então frequentemente remontado, se baseia em seus poemas. A escritora também dirigiu um grupo de teatro amador e, em duas ocasiões, integrou a equipe da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis, onde continua a residir. Ganhou diversos outros prêmios literários e, em 2016, foi a primeira mulher a receber o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura pelo conjunto da obra.

 

 

Os textos de Adélia Prado são saborosos, leves, lúdicos. Evocam via de regra o cotidiano, a vida doméstica e, frequentemente, a espiritualidade cristã. Em “Casamento”, ela mostra como um simples momento de cumplicidade pode servir para manter acesa a chama de um longo relacionamento a dois.

O poema, publicado no livro “Terra de Santa Cruz”, foi copiado pela autora em 1982 e oferecido à Biblioteca Nacional, onde se encontra sob a guarda da Divisão de Manuscritos.

O documento está acessível pelo link da BN Digital: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss_I_07_19_005B/mss_I_07_19_005B.pdf

FBN | Notas de Lima Barreto sobre a Divulgação de “Policarpo Quaresma”.

maio 29, 2018

Em meio à atual discussão sobre os problemas do mercado editorial, a Série Documentos Literários, colaboração da Divisão de Manuscritos, apresenta um caderno do escritor Lima Barreto, no qual o escritor tomou notas sobre a distribuição e divulgação de seu livro “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”.

O romance, que segundo foi um precursor do Modernismo, saiu primeiro em folhetim no Jornal do Commercio, em 1911. Como livro, foi publicado em 1915, às custas do autor, que tomou a si a tarefa de divulgá-lo, fornecendo exemplares a jornalistas e críticos da época. O caderno traz anotações feitas a esse respeito, listando nomes de periódicos e de pessoas como Olavo Bilac, Bastos Tigre e Ruy Barbosa, bem como os endereços de entrega. Também inclui outras notas e um texto que pode ser o rascunho de uma carta, de uma crônica ou simplesmente um desabafo:

“O Polycarpo

Meu livro sahiu há quasi um mez. Só um jornal falou sobre elle três vezes (de sobra). Em uma dellas Fabio Luz assignou um artigo bem agradavel, que sahiu nas vesperas do Carnaval. Ninguém pensava em outra cousa. Passou-se o Carnaval e Portugal teve a scisma de provocar guerra com a Allemanha.  As folhas não se importaram com outra cousa (…) E não têm tempo de falar no meu livro, os jornaes, estes jornaes do Rio de Janeiro.”

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Ao contrário do primeiro romance de Lima Barreto — “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de 1909 –, “Policarpo Quaresma” foi bem recebido pelo público e pela crítica. Isso, porém, não livrou o escritor de dificuldades financeiras, nem do preconceito social e racial que o acompanhou durante toda a sua carreira, aproximando-o de seu herói, o idealista e incompreendido Major Policarpo.

O caderno integra a Coleção Lima Barreto, que está sob a guarda da Divisão de Manuscritos e, em 2017, foi nominada pelo programa Memória do Mundo da UNESCO. O documento foi digitalizado e pode ser consultado através do link da BN Digital:

Clique para acessar o mss1428168.pdf

FBN | André Rebouças Trata da Propaganda Abolicionista.

maio 23, 2018
A Série Documentos Literários, contribuição da Divisão de Manuscritos, homenageia André Rebouças, um dos maiores nomes do movimento abolicionista no Brasil.
 
Rebouças nasceu em Cachoeira – BA no dia 13 de janeiro de 1838, em meio à revolução popular conhecida como sabinada. Era o mais velho dos sete filhos do advogado autodidata Antônio Pereira Rebouças, que, apesar de todo o preconceito existente na época, tinha prestígio e boa posição social. Em 1846, a família se mudou para o Rio de Janeiro, onde André e seu irmão Antônio estudaram na Escola Politécnica e se tornaram engenheiros militares. Passaram alguns meses na Europa e, ao retornar, passaram a trabalhar para o governo brasileiro, na área de portos e fortificações litorâneas.
Após alguns meses em que serviu como engenheiro na Guerra do Paraguai, André Rebouças voltou para a Corte, onde se dedicou a projetos de modernização do país, contando sempre com a parceria do irmão Antônio. Dirigiu a Companhia de Docas da Alfândega, trabalhou com questões de abastecimento de água e projetou estradas de ferro, entre as quais a Curitiba-Paranaguá, um dos mais arrojados projetos de engenharia mundial em sua época, inaugurada em 1885.

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Naquela mesma década, o engenheiro se engajou na causa abolicionista, colaborando com Joaquim Nabuco, Cruz e Sousa e José do Patrocínio. Para ele, o fim da escravidão deveria estar atrelado à reforma agrária, que acabaria com os latifúndios e daria acesso à posse da terra tanto aos ex-escravos quanto aos imigrantes.
Progressista em questões sociais, André Rebouças era, contudo, monarquista, e deixou o Brasil juntamente com a família imperial. Viveu em Lisboa, onde colaborou com jornais londrinos, trabalhou por algum tempo em Angola e, mais tarde, transferiu-se para Funchal, na Ilha da Madeira. Lá viria a se suicidar, atirando-se de um penhasco, a 9 de maio de 1898.
A carta aqui apresentada foi escrita por Rebouças para seu amigo Domingos Jaguaribe. O engenheiro comunica a criação de um fundo destinado à propaganda abolicionista e solicita uma contribuição. Informa ainda que Joaquim Nabuco lhe enviou de Londres a biografia do abolicionista norte-americano Frederick Douglass (1818 – 1895), que seria traduzida e vendida numa edição popular, ao preço de 200 réis, como parte do esforço de espalhar as ideias pró-abolição em todo o Brasil.
O documento integra a Coleção Jaguaribe, que se encontra sob a guarda da Divisão de Manuscritos.

FBN | Manuel Antônio de Almeida Escreve sobre Nova Friburgo.

maio 16, 2018

No ensejo do aniversário de Nova Friburgo (RJ), que ocorreu a 16 de maio, a Coleção Documentos Biográficos, contribuição da Divisão de Manuscritos, apresenta uma crônica sobre a cidade, da autoria do escritor Manuel Antônio de Almeida.

Nascido no Rio de Janeiro a 17 de novembro de 1830, filho de um militar que morreu deixando-o com onze anos de idade, Almeida se formou em Medicina, mas nunca exerceu a profissão. Em vez disso, dedicou-se ao jornalismo, tendo publicado crônicas, artigos e um único romance, “Memórias de um Sargento de Milícias”, que saiu primeiro em folhetim no jornal “Correio Mercantil” (1852-1853) e um ano depois em livro, tendo como autor “Um Brasileiro”. Foi professor do Liceu de Artes e Ofícios e, em 1858, tornou-se diretor da Tipografia Nacional, onde o jovem Machado de Assis trabalhava como tipógrafo.

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Em 1860, Manuel Antônio de Almeida passou uma temporada em Nova Friburgo, de onde escreveu a Quintino (Bocaiúva) acerca de suas dificuldades financeiras e da possibilidade de se estabelecer ali como professor. Data, possivelmente, desse período o original aqui apresentado, que, embora tenha recebido o título “Crônica sobre Friburgo” é na verdade o fragmento de carta ao redator de um jornal, no qual argumenta com calor a favor de escrever a respeito da cidade serrana. Segundo ele,

“Friburgo merece esta pequenina attenção com mais justiça do que muitos logarejos ahi dos confins das nossas províncias, que entretanto merecem todos os dias estimadas menções nos jornaes da Corte”.

No mesmo documento, Manuel Antônio de Almeida se refere a questões políticas, com as quais começava a se envolver na época. Pretendia se candidatar à Assembleia Provincial do Rio de Janeiro. No entanto, antes que seus planos se concretizassem, faleceu no naufrágio do navio Hermes, quando este naufragou na costa de Macaé, no dia 28 de novembro de 1861.

O fragmento textual é proveniente da Coleção Ramos Paz, um dos vários correspondentes de Manuel Antônio de Almeida, e atualmente integra a Coleção Literatura da Divisão de Manuscritos. O original pode ser consultado na íntegra em

Clique para acessar o mss_I_07_17_004.pdf