
A Série Documentos Literários, contribuição da Divisão de Manuscritos, homenageia Miguel de Cervantes no aniversário de sua morte.
O genial escritor espanhol Miguel de Cervantes Saavedra nasceu, supostamente, em Alcalá de Henares, em Castela, a 29 de setembro de 1547. O local e o dia exato do nascimento são incertos, mas sua carta de batismo afirma que recebeu o sacramento no dia 9 de outubro, em Castela. Filho de um cirurgião, estudou em Madrid e Sevilha e, mais tarde, ingressou no exército, onde participou da famosa Batalha de Lepanto (1571), travada entre os turcos otomanos e a Liga Santa formada por vários estados cristãos. Nessa batalha teria sido ferido na mão e no peito. No regresso a Castela, a nau em que viajava foi capturada por corsários argelinos, e Cervantes passou cinco anos em Argel até ser resgatado.

Depois de um período em Lisboa, Cervantes regressou à Espanha, casou-se com Catalina de Salazar e se estabeleceu na região de La Mancha, onde se dedicou ao teatro. Em 1585 publicou seu primeiro livro, “La Galatea”, que trata da natureza do amor ao contar a história de um triângulo amoroso entre jovens pastores. Dois anos depois, entrou para o serviço público como arrecadador de impostos para a Real Armada, ao mesmo tempo que via frustradas suas tentativas de conseguir algum cargo no Novo Mundo.
Em 1597, o banco onde depositava o dinheiro dos impostos foi à falência, o que levou Cervantes a passar alguns meses na prisão. Alguns historiadores acreditam que teria começado ali a escrever o que seria não apenas sua obra-prima, mas aquele que é considerado por muitos o maior romance de todos os tempos e o primeiro da Idade Moderna, “O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de La Mancha”. A primeira parte apareceu em 1605, publicada por Francisco de Robles, e alcançou grande sucesso junto ao público, tanto que deu margem a várias “falsas continuações”. A mais famosa foi escrita por Alonso Fernández de Avellaneda e publicada em Tarragona, em 1614. No ano seguinte, Cervantes publicou a continuação de seu livro, “O Engenhoso Cavaleiro D. Quixote de la Mancha”, no qual não apenas citou a obra de Avellaneda como fez surgir um dos seus personagens para declarar que não se tratava da verdadeira continuação do “Quixote”. Muito aguardado pelos leitores da primeira parte do “Quixote”, o livro fez sucesso, mas o escritor morreria um ano depois, em Madrid, a 22 de abril de 1616. Entre as causas tidas como mais prováveis está a cirrose.
Entre as duas partes de sua obra-prima, Cervantes escreveu suas também famosas “Novelas Exemplares” (1613). Algumas seguem a escola italiana e relatam histórias de amor repletas de aventuras e reviravoltas, ao passo que nas mais realistas veem-se mais claramente a sátira e a crítica social. Algumas, como “Rinconete e Cortadilho”, podem ser vistas como parte do gênero picaresco, que começou na Espanha algum tempo ante, com obras como “Lazarillo de Tormes” (anônima, publicada entre 1529 e 1533). Nem essas novelas, porém, nem qualquer outro de seus trabalhos alcançaria a repercussão e a imortalidade do “Quixote”. Muito mais que uma sátira, trata-se de uma obra genial, repleta de metáforas e intertextos e com dimensões profundamente humanas, cuja dupla de protagonistas – D. Quixote e seu escudeiro Sancho Pança – há muito se encontra eternizada no imaginário universal.

A Biblioteca Nacional possui uma grande coleção de obras de e sobre Cervantes, dentre as quais exemplares de suas edições em vários países e ilustrações originais. Em 2001, a instituição abrigou uma exposição para apresentar esse material ao grande público. O catálogo, contendo algumas imagens, está disponível na BN Digital e pode ser consultado pelo link
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon1026197/icon1026197.pdf