
A Série Documentos Literários, contribuição da Divisão de Manuscritos, cede espaço à História para lembrar o aniversário do conde d´Eu, marido de Isabel, princesa do Brasil.
Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston d´Orléans nasceu a 28 de abril de 1842 em Neuilly-sur-Seine, na França. Era o primeiro filho de Louis, duque de Nemours, e de Victoria de Saxe-Coburg Gotha. Ao nascer, recebeu o título de conde d´Eu, outorgado por seu avô paterno, Louis Philippe I, imperador dos franceses. Este viria a abdicar do trono durante a revolução de 1848 e a se exilar na Inglaterra, e o neto o acompanhou, juntamente com o restante da família.
Gaston teve uma educação esmerada, bastante severa por parte do pai. Aos treze anos iniciou sua carreira de armas, concluída em Segóvia, na Espanha. Participou da guerra do Marrocos, em 1859-60, e adquiriu certa fama como militar. Em 1864, de acordo com o costume vigente entre as famílias nobres, aceitou se casar com uma das duas filhas de d. Pedro II, imperador do Brasil. Em princípio sua esposa deveria ser a mais nova, Leopoldina, enquanto seu primo Luís Augusto de Saxe-Coburg e Gotha, duque de Saxe, iria se casar com Isabel; no entanto, os pares foram trocados, o que parece ter agradado a Gaston. Segundo ele escreveu a sua irmã:
“Acho-a (Isabel) mais capaz do que a irmã caçula de assegurar a minha felicidade doméstica; o país no qual ela deve ter sua residência principal não me desagradou; e eu vejo a possibilidade de tudo conciliar com viagens à Europa, a cuja duração e a cuja frequência não me impuseram nenhum limite.”
O casal de príncipes estava justamente na Europa, em lua de mel, quando se iniciou a guerra do Paraguai. D. Pedro II escreveu ao genro pedindo-lhe que regressasse ao Brasil e fosse se encontrar com ele e o duque de Saxe em Uruguaiana, onde, segundo observou o visconde de Taunay, o conde d´Eu demonstrou “grande interesse pelas coisas do Brasil, observando, perguntando, tudo visitando e tratando de colher minuciosas e exatas informações”. Desejava participar do confronto, mas d. Pedro fez com que o Conselho de Estado negasse seu pedido; só mais tarde, em 1869, seria nomeado comandante-em-chefe dos exércitos aliados. Sua atuação na Guerra do Paraguai é objeto de controvérsias por parte dos historiadores: alguns o apontam como responsável por crimes de guerra, incluindo o massacre de civis e a destruição de um hospital, enquanto outros refutam as alegações como sendo obra de seus muitos detratores e de inimigos da monarquia.
Nos anos após a guerra, Gaston d´Orléans, a quem o sogro negava participação efetiva nas decisões políticas, se tornou, assim como sua esposa, patrono das artes, da cultura e da educação. Preocupava-se também com a melhoria na organização do Exército e o aperfeiçoamento do material bélico. Segundo seus biógrafos, gostava de se comportar como um homem comum e de transmitir lições de simplicidade a seus filhos, mas, apesar disso – ou talvez, em parte, exatamente por isso – era bastante impopular aos olhos dos brasileiros. O historiador Ronaldo Vainfas atribui esse desfavor às críticas sofridas por Gaston por parte da imprensa republicana, notadamente Rui Barbosa.
Em 1889, com o advento da República, a família imperial se exilou em Portugal. O conde d´Eu permaneceu na Europa ao lado da esposa e dos filhos, vindo a morrer no dia 28 de agosto de 1822, a bordo de um navio que o trazia ao Brasil para a celebração do centenário da Independência. Seus restos mortais, juntamente com os da princesa Isabel, falecida em 1821, foram trasladados para o Brasil em 1971 e repousam na catedral de S. Pedro de Alcântara, em Petrópolis (RJ).
A Divisão de Iconografia possui um desenho a grafite que retrata, da esquerda para a direita, o conde d´Eu, d. Pedro II e o duque de Saxe em Uruguaiana, em 1865. A imagem, da autoria de Brás Inácio de Vasconcelos, integra o “Álbum da Guerra do Paraguai”, que pode ser consultado acessando a BN Digital.
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